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Morte de gari: o que ainda falta ser esclarecido sobre o crime

Um dos pontos centrais da apuração é o horário de chegada de Renê à empresa onde trabalha, em Betim, na Grande BH

17/08/2025 às 10h14
Por: Vanilson Brito Fonte: msn
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Morte de gari: o que ainda falta ser esclarecido sobre o crime

O assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, na manhã da última segunda-feira (11/8), em Belo Horizonte, ainda deixa várias questões sem respostas, mesmo após a prisão do principal suspeito, Renê da Silva Nogueira, 47. A investigação conduzida pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) revelou alguns indícios importantes, mas ainda há dúvidas que precisam ser esclarecidas, como o envolvimento da delegada, esposa do suspeito, na disponibilização da arma usada no crime.

Um dos pontos centrais da apuração é o horário de chegada de Renê à empresa onde trabalha, em Betim, na Grande BH. Câmeras de segurança inicialmente indicaram que ele teria chegado às 9h18, mas a Polícia Civil afirma que o registro correto seria 9h38, pouco mais de meia hora após o momento em que o gari foi baleado ser capturado por imagens na rua do crime, no Bairro Vista Alegre, Região Oeste da capital, às 9h07. A divergência impacta diretamente a validade do álibi apresentado pelo suspeito.

A distância entre o local do homicídio e a empresa é de cerca de 30 quilômetros, segundo simulação feita no Google Maps. A investigação ainda precisa esclarecer por que Renê teria passado pela região ao deixar sua casa, no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, rumo ao trabalho.

Em depoimento no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ele afirmou que não esteve no local do crime e que costuma utilizar apenas vias principais, conforme orientação da esposa, já que não é natural de Minas Gerais e desconhece bem a cidade.

Renê também disse não reconhecer o nome da avenida mencionada pelas autoridades, durante a abordagem dos policiais ao suspeito na academia em que estava. Segundo ele, na ocasião os militares informaram que ele estava sendo averiguado por uma ocorrência na “Avenida Teresa não sei o que”, sem saber o nome. O suspeito ainda contestou a identificação do veículo nas imagens e afirmou que o carro do vídeo era elétrico e tinha insulfilm escuro em todos os vidros, enquanto o veículo que dirige é híbrido e tem insulfilm apenas nas laterais e na traseira.

Quebra de sigilo e rastreamento

Na noite de quinta-feira (14/8), a Justiça autorizou a quebra de sigilo dos dados telefônicos e telemáticos de Renê, oficiados à empresa BYD do Brasil, montadora do carro do suspeito visto no local do crime, e a operadora Claro. O objetivo é levantar as rotas percorridas por Renê no dia e nos horários próximos do momento do homicídio. O pedido incluiu informações do sistema de rastreamento das companhias referentes a 11 de agosto, no período entre 7h —duas horas antes do crime— e 16h, próximo ao horário da prisão.

Informações sobre rotas percorridas, velocidade, registros de chamadas e comandos de voz ainda serão analisadas para reconstruir com precisão a sequência de acontecimentos e possíveis comunicações com terceiros. O documento foi assinado pela juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, que também solicitou acesso ao WhatsApp, e-mail e demais aplicativos de mensagem pelo celular. 

Envolvimento da delegada

A arma utilizada no homicídio, uma pistola calibre .380, pertence à delegada da Polícia Civil Ana Paula Balbino Nogueira, esposa de Renê, e foi apreendida na residência da servidora no mesmo dia do crime. Os exames periciais, divulgados nessa sexta-feira (15/8) pela corporação, apontaram a compatibilidade entre a arma de Ana Paula e as munições usadas.

Ainda não foi esclarecido se ela entregou o armamento ao marido ou teve qualquer conhecimento prévio do homicídio.

Na noite de segunda, após a prisão de Renê, a servidora, que chefia a Delegacia de Combate à Violência Doméstica em Nova Lima, na Grande BH, afirmou à Polícia Civil que o marido não tinha acesso às suas armas e que não tinha informações sobre o crime. A corporação instaurou procedimento administrativo disciplinar correcional para apurar eventuais responsabilidades.

A arma de uso particular da servidora foi incluída no inquérito criminal que está em andamento na Delegacia de Homicídios da PCMG. Apesar do procedimento interno, o delegado do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), Álvaro Huerdas, afirmou, em coletiva de imprensa, que não há indícios para afastamento da servidora e, por isso, ela segue em seu cargo regular.

Na ocasião, o delegado explicou ainda que o fato de a arma estar no nome da servidora do governo de Minas Gerais “não necessariamente” a coloca como coautora ou partícipe da ocorrência. A participação só será indicada caso fique constatado que a mulher entregou o armamento para o marido. “O que nós temos é uma arma de fogo regularmente registrada em nome de uma delegada de polícia que foi entregue tanto ao Departamento quanto à Corregedoria”, disse na terça-feira (12/8).

Contato com a esposa

Durante o depoimento prestado logo após sua prisão em flagrante, Renê afirmou que ligou para a esposa na manhã de segunda-feira, por volta das 8h40, informando que o trânsito estava ruim. Segundo ele, a próxima ligação teria ocorrido às 14h, quando avisou que tinha saído para passear com os cachorros. Por fim, Renê disse ter entrado em contato novamente com a esposa assim que foi abordado pelos policiais militares.

Em entrevista ao Estado de Minas, Tiago Lenoir, advogado da família do gari, destacou que, caso se confirme o envolvimento de outras pessoas no crime, elas também poderão ser responsabilizadas civil e criminalmente e incluídas em possíveis pedidos de reparação por danos materiais e morais. Por isso, foi solicitado o bloqueio de bens do suspeito e de sua esposa. “Isso está previsto tanto no Código Civil quanto no Código Penal”, afirmou.

Como foi o momento do crime?

A equipe de limpeza estava na Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, quando a motorista Eledias Aparecida Rodrigues, que dirigia o caminhão de coleta de lixo, percebeu que uma fila de carros se formava atrás dela e decidiu manobrar o veículo para a direita e permitir a passagem dos veículos, entre eles um BYD conduzido por Renê da Silva.

Segundo o depoimento de Eleidas, ela e os outros garis disseram ao suspeito “vem, vem, pode vim (sic)”, orientando que havia espaço suficiente para ele passar com o carro. Logo depois, Renê pegou uma arma e apontou para a motorista, ameaçando atirar. O gari Tiago Rodrigues então se posicionou entre o empresário e a colega, questionando: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”.

Renê conseguiu passar sem esbarrar no caminhão e parou cerca de três metros à frente. Desceu do carro com a arma em punho, mas deixou o carregador cair. Ele então o recolocou, manobrou a arma e efetuou um disparo, que atingiu Laudemir no abdômen.

Conforme os registros, o tiro acertou o lado direito das costelas e saiu pelo esquerdo. Ele deu entrada no Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morreu momentos depois por hemorragia interna. No local do crime, foi recolhido um projétil intacto de munição calibre .380.

Como o suspeito foi preso?

Horas após o crime, a Polícia Militar localizou e prendeu Renê no estacionamento de uma academia na Avenida Raja Gabaglia, em Belo Horizonte. Segundo a corporação, a identificação do suspeito foi possível graças à análise de imagens de câmeras de segurança, que revelaram parte da placa do veículo e possibilitaram identificar o modelo do carro.

Renê teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em audiência de custódia realizada na manhã de quarta-feira (13/8). O advogado do caso, Leonardo Salles, não se pronunciou. Ele está detido no Presídio de Caeté, na Grande BH.

De acordo com a decisão judicial, a prisão preventiva do réu é necessária para garantir a ordem pública, dada a gravidade do crime é o modus operandi utilizado. Isso porque, segundo a ata da audiência, o crime foi cometido "em plena luz do dia, por motivo fútil, uma aparente irritação decorrente de uma breve interrupção no trânsito".

O que a investigação ainda precisa responder?

·       Sequência de eventos

Detalhes precisos do que aconteceu entre a saída de casa de Renê e o momento da prisão.

·       Rotas percorridas

Por que Renê passou próximo ao local do homicídio; reconstrução das rotas por GPS e rastreamento do carro.

·       Quebra de sigilo

Análise de ligações, mensagens e aplicativos para verificar contatos e possíveis cúmplices.

·       Envolvimento da delegada

Se ela entregou ou tinha conhecimento de que o suspeito estava com sua arma e se sabia do crime.

·       Responsabilidade de terceiros

Possível envolvimento de outras pessoas no crime, civil ou criminalmente.

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