Quinta, 04 de Setembro de 2025
29°

Tempo limpo

Teresina, PI

Meio Ambiente Extinção

Alerta: Brasil está em estado de emergência para extinção dos jumentos; entenda

Segundo cientistas, o principal responsável pelos abates é um elixir rejuvenescedor produzido a partir da pele dos animais

04/09/2025 às 08h53
Por: Amanda Lafayette Fonte: Globo Rural
Compartilhe:
Foto: Reprodução/Internet
Foto: Reprodução/Internet

O Brasil acompanha, em tempo real, o risco de desaparecimento de um dos animais mais representativos de sua tradição rural: o jumento. O alerta foi feito por um grupo de 12 cientistas brasileiros e estrangeiros em uma carta que será encaminhada ao governo federal ainda este mês, pedindo a suspensão imediata do abate da espécie no país.

A preocupação não é recente. Há mais de uma década, pesquisadores vêm chamando atenção para a redução acentuada da população desses animais. Desde 1999, a queda foi de 94%, passando de 1,37 milhão para apenas 78 mil indivíduos. Para os especialistas, a situação já configura uma “emergência iminente e irreversível”.

A mobilização teve início em junho, durante o III Workshop Internacional Jumentos do Brasil: Futuro Sustentável, realizado em Maceió. A partir desse encontro, foi elaborado um documento reunindo dez razões para o fim do abate, publicado em agosto.

Esse relatório será enviado ainda neste mês ao Ministério Público Federal, Casa Civil, Secretaria-Geral da Presidência, Ministérios da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente, além do Ministério Público da Bahia e de outros estados do Nordeste.

Entre os principais argumentos estão o valor genético exclusivo do jumento nordestino, sua relevância ecológica, os riscos sanitários comprovados da prática e as implicações sociais e legais da cadeia de abate. O texto também aponta denúncias de trabalho infantil, situações análogas à escravidão e o impacto negativo à imagem do agronegócio brasileiro.

Grande parte dos animais abatidos nos últimos anos teve como destino a China, onde suas peles são utilizadas na produção do ejiao, um colágeno animal comercializado como suplemento rejuvenescedor. Apenas entre 2018 e 2024, mais de 248 mil jumentos foram mortos, a maioria na Bahia — único estado com frigoríficos autorizados pelo Serviço de Inspeção Federal para esse tipo de atividade.

 A prática ocorre mesmo sem dados atualizados sobre a real dimensão da população remanescente no país, o que, segundo os cientistas, é um fator agravante.

Para o professor Adroaldo Zanella, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, a situação exige medidas urgentes. “O jumento nordestino é reconhecido em estudos brasileiros e internacionais como um ecótipo exclusivo do nosso Semiárido, com papel importante na economia e cultura local. Estou muito preocupado. Existem soluções, e elas devem ser tomadas com urgência. O abate precisa parar.”

O pesquisador Pierre Escodro, da Universidade Federal de Alagoas, também critica a postura do país diante da crise. “O Brasil não pode continuar sendo o elo frágil de uma cadeia internacional que lucra com a morte de um animal tão representativo. Precisamos alinhar nossa legislação às boas práticas já adotadas por outros países do sul global”, afirma.

Além do apelo moral e científico, os especialistas destacam que já existem alternativas tecnológicas ao uso de peles de jumento. O pesquisador da USP Roberto Arruda de Souza Lima cita, por exemplo, a fermentação de precisão, técnica capaz de produzir colágeno em laboratório sem exploração animal. “Investir nessas tecnologias é estratégico do ponto de vista econômico, ambiental e sanitário”, considera.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Ele1 - Criar site de notícias