A decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre a importação de mangas brasileiras acendeu um alerta entre os produtores do Ceará. O estado, que colheu 43 mil toneladas da fruta na safra 2023/2024 e movimentou cerca de R$ 628 milhões, agora enfrenta um cenário de incertezas sobre o destino da produção.
Uma das mais afetadas é a Finoagro, empresa com operações no Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, e que exporta aproximadamente 2 mil toneladas da produção cearense aos EUA. Diante do tarifaço, a companhia avalia inclusive a possibilidade de absorver o custo da taxação, ainda que isso signifique reduzir a margem de lucro.
Segundo Adriano Thielke, gerente geral de operações da Finoagro, a prioridade é preservar relações comerciais construídas ao longo de mais de duas décadas.
“É preferível perder margem em uma safra do que perder um mercado inteiro. Relações comerciais não são descartáveis. Levam anos para se consolidar entre produtores, importadores e toda a cadeia logística”, afirmou.
O mercado norte-americano representa 30% das exportações da empresa, que tem ainda a Europa como destino principal, absorvendo 70% da produção. A companhia também envia cargas ao Canadá e ao Oriente Médio, utilizando majoritariamente a estrutura do Porto do Pecém.
Especialistas alertam que, caso a produção destinada aos EUA seja redirecionada ao mercado europeu, haverá um risco de queda generalizada nos preços, com efeitos em toda a fruticultura brasileira.
Thielke defende que o governo brasileiro atue diplomaticamente para negociar exceções na tarifa de 50% e incluir a manga na lista de produtos livres da sobretaxa.
“É essencial que o governo esteja presente. Estamos falando de um setor que gera milhares de empregos e que depende da estabilidade no comércio exterior”, disse.
No Ceará, a Finoagro atua em Quixeré e Beberibe, município historicamente vinculado à produção de caju, mas que agora desponta como polo exportador de manga. Só em Beberibe, foram mais de 6 mil toneladas na última safra, sendo 2 mil enviadas ao mercado norte-americano.
No auge da produção, a empresa emprega 1,5 mil trabalhadores, dos quais 200 apenas no Ceará. A geração de empregos, segundo Thielke, é um dos fatores que tornam a continuidade das exportações ainda mais estratégica.
A companhia projeta investir R$ 20 milhões na expansão de um packing house em Beberibe, mas a decisão foi colocada em compasso de espera diante do ambiente de instabilidade criado pelas tarifas.
Uma alternativa considerada, mas vista com cautela, é ampliar a oferta no mercado interno. O consumidor cearense, no entanto, está mais habituado à manga coité, variedade tradicional. Já as destinadas à exportação — Tommy, Palmer, Keitt e Kent — têm características diferentes e maior valor agregado.
“Para mudar essa realidade, seria necessário investimento em divulgação, campanhas de consumo e apoio governamental. Não basta apenas colocar a fruta na gôndola”, explica Thielke.
O Vale do São Francisco (BA/PE) segue como o maior polo de exportação de mangas do Brasil, responsável por cerca de 240 mil toneladas das 250 mil enviadas ao exterior. Ceará, São Paulo e Rio Grande do Norte completam o mapa da fruticultura nacional.
Mesmo diante da crise, o executivo acredita que o setor vai superar o momento difícil e que a expansão da produção no Ceará permanece no horizonte:
“Acreditamos no futuro da manga cearense. O momento exige cautela, mas o setor já enfrentou outras crises e se reinventou”, conclui.
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