Hoje, sexta-feira (16), em Barbalha, no Cariri cearense, acontece a derrubada do mastro de Santo Antônio. A solenidade, realizada no Sítio Flores, área rural da cidade, simboliza o início da tradicional Festa de Santo Antônio de Barbalha. Para a 97ª celebração, a árvore escolhida para ser cortada é um jatobá, com cerca de 23 metros de altura e 1,15 metro de circunferência. "Mais do que simplesmente derrubar uma árvore, estamos dando continuidade a um costume ancestral que marca as origens da nossa cidade", declara o prefeito Guilherme Saraiva.
Os carregadores e a comitiva se reunirão no Mercado Público Municipal. De lá, seguirão em procissão até a Igreja Matriz de Santo Antônio, onde receberão a bênção antes de se dirigirem à mata. Após o corte, a árvore permanecerá na mata, no local conhecido como "cama do pau", para perder umidade e ficar mais leve. Ela aguardará o transporte e a elevação da bandeira do padroeiro, agendados para o dia 1º de junho.
A celebração de Santo Antônio no Brasil tem suas raízes no período colonial, quando a veneração aos santos católicos já era uma prática cultural arraigada. No caso de Santo Antônio, famoso por ser o santo casamenteiro e dos milagres, essas relações frequentemente tomavam formas curiosas, como simpatias em que sua imagem era colocada de cabeça para baixo como forma de protesto pela demora na realização dos pedidos.
Em Barbalha, no Ceará, a devoção a Santo Antônio começou no século XVIII, época em que o povoado ainda estava se desenvolvendo, conforme explica Jucieldo Ferreira Alexandre, doutor em História Social e professor da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Desde então, a festa dedicada ao santo passou por diversas mudanças, mas continua sendo um elemento fundamental da identidade local. A festividade reafirma, ano após ano, os laços de fé da comunidade com Santo Antônio, cuja memória permanece viva nas crenças e tradições do povo de Barbalha.
O costume de erguer o mastro com a bandeira do santo padroeiro é uma prática antiga e profundamente ligada à cultura popular. No Cariri, há registros desse ritual desde o século XIX, como aponta Jucieldo. Um exemplo é o relato do médico Freire Alemão, que em 1860 descreveu a elevação de um mastro no Crato, celebrado com música, fogos de artifício e grande participação popular.
A historiadora Simone Pereira da Silva também destaca as influências indígenas presentes na festa de Barbalha, como as corridas com toras e os rituais relacionados às árvores. Além disso, a tradição oral associa a disseminação dessa prática às missões do Padre Ibiapina, que atuou na região na segunda metade do século XIX.
Embora a ligação entre Santo Antônio e o tradicional mastro de Barbalha possa parecer óbvia, Jucieldo esclarece que essa relação é apenas uma coincidência. Existe, de fato, uma antiga história sobre a vida de santos da Idade Média que associa o santo a uma árvore.
De acordo com essas narrativas, buscando isolamento e uma maior conexão com Deus, Frei Antônio teria vivido por um tempo em uma cela construída entre os ramos de uma nogueira. No entanto, essa história não tem relação direta com a tradição de Barbalha.
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