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Os escândalos de Ednaldo Rodrigues no comando da entidade máxima do futebol brasileiro

Nos últimos dias, a Revista Piauí de forma exclusiva, vem divulgando situações absurdas do alto comando da CBF.

09/04/2025 às 10h27 Atualizada em 09/04/2025 às 10h55
Por: Emanuel Lucas Fonte: https://jornaldebrasilia.com.br
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Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Em 2021, Ednaldo Rodrigues assumiu a presidência da CBF após a saída de Rogério Caboclo, que ocorreu devido a acusações de assédio. Ele se apresentou como a pessoa ideal para reverter a situação da entidade, prometendo eliminar privilégios, extirpar toda imoralidade e restaurar a credibilidade do futebol brasileiro, que havia sido abalada por diversos escândalos. Três anos depois, Ednaldo conquistou a reeleição de forma unânime, contando com o respaldo de todas as federações e clubes das Séries A e B. Entretanto, uma extensa reportagem da revista Piauí, divulgada nesta sexta-feira (4), indica que o dirigente não apenas preservou, mas também intensificou o sistema de favores e privilégios, além de proteções jurídicas que sustentam o poder na Confederação Brasileira de Futebol há várias décadas.

A matéria, escrita por Allan de Abreu, revela os bastidores de uma administração que se assemelha, em muitos sentidos, às de seus predecessores: Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, todos afastados por corrupção e sob investigação internacional. Contrariando suas promessas, Ednaldo fez da CBF um organismo ainda mais isolado, onde as decisões são tomadas diretamente por ele, e os recursos financeiros da entidade — que gera anualmente mais de R$ 1 bilhão — são geridos de maneira no mínimo duvidosa.

Durante a Copa do Mundo de 2022 no Catar, a CBF financiou uma delegação de 49 pessoas sem vínculos diretos com o futebol. Entre amigos, familiares, políticos, artistas e jornalistas, todos tiveram suas despesas cobertas: passagens em classe executiva, acomodações em hotéis luxuosos, ingressos para os jogos e até um cartão corporativo com um limite de US$ 500 por dia para gastos pessoais. A família de Ednaldo — incluindo esposa, filha, genro, netos e cunhada — viajou em primeira classe e se hospedou no Marriott Marquis, um dos estabelecimentos mais caros de Doha. Somente os gastos extras da esposa totalizaram R$ 37 mil. A estimativa é que a viagem completa tenha custado em torno de R$ 3 milhões.


Foto: Jean Catuffe/Getty Images

Os privilégios também se estendem à estrutura política da CBF. Desde o início de sua gestão, Ednaldo aumentou substancialmente a "mesada" destinada aos presidentes das federações estaduais. Até 2021, cada dirigente recebia cerca de R$ 50 mil mensais; atualmente, esse montante subiu para R$ 215 mil, incluindo um décimo sexto salário. Isso explica, em parte, por que nenhum presidente de federação se dispôs até a dialogar com Ronaldo Fenômeno, que sugeriu uma candidatura.

Além de receberem um salário elevado, os presidentes usufruem de passagens aéreas e estadias custeadas pela CBF, mesmo para viagens pessoais ou familiares. Um dos relatos apresentados pela Piauí mostra que um dirigente solicitou à entidade que arcasse com a hospedagem de sua esposa, filha, irmã e babá durante um procedimento cirúrgico em São Paulo. O pedido foi feito via áudio de WhatsApp diretamente ao presidente da CBF, que consentiu. No total, a conta alcançou R$ 114 mil.


Foto: Samuel Pancher/Metrópoles

A reportagem revela uma CBF caracterizada por desorganização, centralismo e um clima de temor. Documentos importantes permanecem trancados em gabinetes, pagamentos são realizados sem qualquer registro formal, e os colaboradores evitam compartilhar suas observações. Em um levantamento interno, mais da metade dos funcionários admitiu não se sentir seguro para relatar casos de abuso ou irregularidades. Desde o início da atual administração, mais de 100 ações trabalhistas foram iniciadas contra a CBF, representando um aumento de 24% em comparação com o período anterior.

O caso mais grave envolve a arquiteta Luísa Rosa, que assumiu a diretoria de patrimônio da CBF e foi demitida após expor casos de assédio moral, esvaziamento de funções e a utilização de câmeras com captação de áudio na sede da organização. Ela afirmou que as gravações eram guardadas em uma sala de acesso restrito ao presidente Ednaldo. Enquanto Luísa ganhou a disputa trabalhista, passou a ser processada por difamação pelo próprio presidente, do qual já obteve uma absolvição judicial.

Quanto à questão jurídica, a proteção legal é uma estratégia evidente. Em 2023, quando Ednaldo enfrentou um processo que resultou em sua suspensão da presidência, ele contratou advogados por valores exorbitantes, sem estipulação de honorários de êxito. Um dos contratos mais controversos foi com o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), fundado pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, que passou a administrar os cursos da CBF Academy, recebendo 84% da receita gerada. Logo após, foi Gilmar quem concedeu uma liminar que restabeleceu Ednaldo em seu cargo.


Foto: Samuel Pancher/Metrópoles

Contando com o apoio total das federações — cujos votos têm um peso três vezes superior ao dos clubes — e sem uma oposição significativa, Ednaldo Rodrigues foi facilmente reeleito em março deste ano. Entre aqueles que se calaram ou se aliaram a ele está o empresário John Textor, proprietário do Botafogo, que anteriormente denunciava irregularidades na entidade e agora se mostra como um apoiador do presidente. No dia seguinte à sua reeleição, Ednaldo viajou para Buenos Aires, onde assistiu à derrota da Seleção Brasileira por 4 a 1 contra a Argentina. Um reflexo, talvez, da crescente desconexão entre a grandeza do futebol brasileiro e a gestão daqueles que o administram.

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