O cenário de alta nas mortes por quedas, colisões e atropelamentos com motocicletas deve ser enfrentado com a promoção de melhorias do transporte público e maior acesso à Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Em entrevista à Agência Brasil, o secretário nacional de Trânsito, do Ministério dos Transportes, Adrualdo de Lima Catão, defendeu que é preciso incluir mais motociclistas no Sistema Nacional de Trânsito, por meio de uma habilitação desburocratizada. Na segunda reportagem da série Rota Perigosa: brasileiros se arriscam em motos por renda e mobilidade, ele também rechaça propostas como a cobrança de impostos sobre motocicletas para compensar os custos da saúde pública com as lesões nos sinistros de trânsito.
“Como é que você vai criar uma trava penalizando o mais pobre? Isso não resolve essa questão socioeconômica. O caminho não é penalizar o mais pobre, é garantir a segurança para ele num transporte público de qualidade”, disse.
A frota de motocicletas no Brasil está em uma trajetória de alta e deve alcançar o patamar de 30 milhões de veículos nas ruas nos próximos meses. Em seis estados do Norte e Nordeste, as motos representam mais da metade da frota de veículos: Piauí (55%), Pará (54%), Maranhão (60%), Rondônia (51%), Acre (53%) e Ceará (50%).
Catão ressalta que, com a melhora da renda, a população tem buscado opções de transporte que compensem as deficiências no transporte público. Essa é uma tendência comum a outros países em desenvolvimento e deve continuar, avalia o secretário.
“É natural que as pessoas, melhorando a sua renda, queiram melhorar a sua vida. E o transporte é um problema das grandes cidades e das médias cidades também. Então, é nesse sentido que as pessoas estão, ao buscar a motocicleta, fugindo de um transporte coletivo que ainda precisa melhorar.”
O secretário cita dados levantados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que mostram a queda da participação dos transportes públicos no total de viagens motorizadas nas regiões metropolitanas brasileiras. A redução média é de 20%, mas em algumas localidades chega a 60%. É o caso da região metropolitana de Manaus, onde o transporte público respondia por 79,8% das viagens motorizadas em 2005 e passou representar apenas 20,4% em 2024.
No caso da região metropolitana do Rio de Janeiro, o percentual caiu de 72,2%, em 2012, para 53,1%, em 2024. Na de Salvador, os transportes públicos recuaram de 64,9% para 40,3% das viagens no mesmo período. Já na região metropolitana de São Paulo, a queda foi de 54,1%, em 2017, para 45,4%, em 2024.
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