O projeto pedagógico do curso foi construído em diálogo com os povos indígenas e está organizado de forma a atender às suas especificidades relativas à formação de professores. Isso porque, além de partir de uma efetiva demanda das comunidades, observa, por exemplo, o espaço e o tempo pedagógicos dos docentes indígenas de acordo com as relações estabelecidas na escola diferenciada, além de valorizar e, principalmente, orientar-se pelos saberes da comunidade, por sua história cultural e política e pela luta na demarcação de terra.
A líder indígena Tabajara em Quiterianópolis, Eleniza Tabajara, aponta que “há muito tempo, já vínhamos almejando essa licenciatura indígena específica para formar os nossos professores. Então, ela é de fundamental importância para o nosso povo e vai ajudar a divulgar a nossa etnia em relação aos povos indígenas da região dos Inhamuns”. Ela avalia, ainda, que a aprovação do projeto é “de grande valia porque vai nos formar, nos habilitar para dar continuidade à educação escolar indígena diferenciada para que possamos ainda mais fortalecer o ensino de qualidade diferenciado específico à nossa população indígena”.
O reitor da Uece, professor Hidelbrando Soares, destaca que “esse é um marco histórico na Universidade que diz muito do nosso viés de diversidade e inclusão. Aproximar-nos dos povos originários é uma ação de respeito àqueles que nos antecederam e que têm uma longa história de educação de suas crianças e de seus jovens. A Universidade chega com uma expertise institucional que, agregada ao trabalho formativo já realizado pela etnia, propiciará formação graduada de qualidade e socialmente referenciada aos futuros professores indígenas. Estamos fazendo história!”
Para a pró-reitora de Graduação da Uece, professora Mazza Maciel, a oferta do curso de licenciatura intercultural indígena, aprovado no âmbito do Edital do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) Equidade da Capes, além de se constituir numa importante política afirmativa é potencializadora de uma experiência de enriquecimento mútuo no campo da formação de professores(as). A construção da proposta pedagógica para e com os povos Tabajara já nos possibilitou experimentar a ampliação de horizontes epistêmicos pelos encontros acontecidos entre a cultura acadêmica e os saberes e a cultura daquela comunidade indígena. É um projeto formativo cuja ideia força é a afirmação das identidades docentes da escola indígena que converge para o fortalecimento da luta pela efetivação do direito dos povos originários à educação que considere a sua língua e a sua cultura e que se guie por princípios como pluralidade cultural e o respeito à diferença”.
A organização curricular do curso foi baseada nas experiências do Magistério Indígena Superior do Ceará e, atendendo às especificidades das vivências indígenas, contempla dois tipos de atividades: tempo-universidade e tempo-comunidade. As primeiras são atividades curriculares realizadas na instituição. Já as segundas contemplam a interação dos estudantes com a comunidade a partir da orientação docente. As disciplinas são organizadas em quatro eixos de saberes: pedagógicos, políticos, tecnológicos e científicos, a partir da compreensão que a comunidade indígena desenvolve, em suas práticas, todas essas categorias de conhecimentos.
O projeto pedagógico do curso e a sua execução do curso já foram aprovados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e está nos ajustes finais para submissão à aprovação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da Uece. A Licenciatura Intercultural Específica Tabajara será vinculada ao Centro de Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos Inhamuns (Cecitec), unidade acadêmica da Uece em Tauá. Com implantação nos municípios de Quiterianópolis e Tauá, o curso atenderá às aldeias Fidelis, Croatá, Bom Jesus e Vila Nova. No total, serão 40 vagas ofertadas, e o curso tem previsão de início no segundo semestre de 2024.
Mín. 21° Máx. 40°