Com grande procura e impacto na comunidade, a capacitação atrai moradores de diferentes idades e trajetórias, unindo tradição e oportunidade
No Quintino Cunha, costurar é mais do que um ofício: é parte da identidade do bairro. Conhecido como um polo de confecção em Fortaleza, o saber da costura passa de geração em geração, garantindo sustento das famílias e impulsionando a economia local. Agora, essa tradição ganha um novo capítulo com a primeira turma do curso de Corte e Costura do Espaço Social Quintino Cunha.
Promovida pelo programa Criando Oportunidades, da Secretaria da Proteção Social (SPS), a iniciativa surgiu como resposta a um desejo da comunidade. A abertura da primeira turma teve mais de cem inscritos. Inicialmente, 20 já estão em sala de aula e, em breve, serão mais. Para muitos, o curso é a chance de transformar a vida e ingressar no mercado de confecção, que segue forte na região.
A professora Erivanda da Silva destaca o entusiasmo dos alunos: “É muito bom ensinar para quem quer aprender”, afirma. Entre os participantes, Andressa Pereira, de 23 anos, vê no curso a possibilidade de transformar sua paixão em profissão. Desde cedo, ajudava a ex-sogra em pequenas costuras e foi assim que nasceu o desejo de aprender mais. Agora, desempregada e mãe, deseja ter seu próprio negócio no ramo da confecção, garantindo um futuro melhor para si e seu filho. “Sempre gostei de trabalhar com roupa, já vendi no centro da cidade e agora quero produzir as minhas próprias peças”, conta.
A diversidade de histórias entre os alunos enriquece ainda mais o ambiente da sala de costura. Maria Luciene, de 49 anos, sempre gostou de moda e fazia roupas de boneca à mão. Ela tem no Bolsa Família a única renda e vê no aprendizado da costura uma forma de trabalhar em casa enquanto cuida da família. “Quero aprender a costurar para minha filha e, quem sabe, vender minhas peças”, explica.
Maria Aleluia Albuquerque, de 49 anos, viu com o passar dos anos um mercado de trabalho cada vez mais etarista. Sem conseguir arrumar emprego formal, ela recebe auxílio social e busca meios para ser uma profissional de novo. “O curso de costura veio como uma grande oportunidade de unir o que gosto ao meu desejo de voltar a trabalhar. Por isso, estou me capacitando”, pontua. Assim como Maria Luciene, ela enxerga na costura uma alternativa para recuperar sua independência financeira e reingressar no mercado de trabalho.
A idade também não é barreira para quem gosta de tentar coisas novas. Creuza Soares, de 83 anos, costura desde jovem, ensinada pela mãe e avó. Durante a vida, trabalhou por conta própria em diferentes estados, sempre na costura. Apaixonada pelo trabalho manual, ela descobriu no curso a chance de aprender a operar máquinas industriais, “especialmente a Overlock”, diz. “Sempre costurei em casa, mas nunca tive uma máquina dessas. Agora, estou aprendendo e não acho tão difícil quanto imaginava”, comenta com entusiasmo.
A tradição da costura no Quintino Cunha não se limita às mulheres. Homens também têm encontrado nesse ofício uma oportunidade de aprendizado e trabalho, desafiando estereótipos e ampliando as possibilidades no setor. José Francisco Sousa, de 54 anos, prova que a costura não tem gênero. Sua trajetória e dedicação mostram que o desejo de aprender e se reinventar pode abrir portas para novas oportunidades.
De um relacionamento antigo surgiu o interesse pela confecção têxtil e o amor, que ficou no passado, deu lugar às linhas e agulhas que hoje formam sua profissão: a de costureiro. “Eu ajudava minha ex-mulher, que trabalhava com isso, e eu comecei a trabalhar também. Quando terminamos, passei sete anos sem costurar. Senti falta! Agora, com o curso, retorno a aprender para voltar a trabalhar no ramo”, explica. A formação tem sido essencial para que ele recupere a prática e se reinsera no mercado, mostrando que o aprendizado nunca tem idade ou gênero.
Serviço
Endereço: Rua São Lucas, 271
Telefone: (85) 98523-1660
Mín. 22° Máx. 32°