A Secretaria da Educação (Seduc) promoveu, nesta sexta-feira (24), o encerramento do II Seminário Estadual em Educação para as Relações Étnico-Raciais, com a temática “Mulheres negras – tecendo vivências e trajetórias”. O momento alto do evento foi a entrega do Selo Escola Antirracista às 31 unidades de ensino da rede estadual que foram selecionadas em edital, após terem desenvolvido boas práticas relacionadas ao tema. A cerimônia ocorreu no Auditório Murilo Aguiar, da Assembleia Legislativa do Ceará, em Fortaleza, com a presença do secretário executivo de Equidade e Direitos Humanos, Helder Nogueira. A iniciativa ocorreu por intermédio da Coordenadoria da Educação Escolar Indígena, Quilombola e do Campo.
O seminário teve início na última quarta-feira (24) e fez parte das ações do Novembro Negro, e também da Semana Estadual da Consciência Negra. A programação ao longo dos três dias contemplou mesas redondas, salas temáticas para a troca de ideias, além de oficinas sobre identidades de raça e gênero; produção de materiais didático-pedagógicos na temática; orientações curriculares; racismo religioso; letramento racial e pedagogia de quilombo.
O objetivo central da agenda é fortalecer a construção de uma educação antirracista, além de facilitar o compartilhamento de experiências que se configurem como boas práticas de gestão escolar no enfrentamento ao racismo estrutural.
Lara Saraiva, coordenadora da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Alda Façanha, em Aquiraz, acredita que a sensibilização e o envolvimento de todos os atores que compõem a comunidade escolar foram fundamentais para o sucesso da iniciativa na unidade de ensino.
“Construímos uma agenda com bastante planejamento, para abarcar todas as atividades que o selo exigia. Trabalhamos na revisão do projeto político pedagógico e do regimento escolar, organizamos palestras e oficinas de dança e capoeira. Também fizemos uma articulação entre as áreas de conhecimento, pensando na abordagem do assunto de forma interdisciplinar. Além de ganhar o prêmio, conseguimos algo ainda mais importante, que era alertar os estudantes sobre a temática. Tratamos sobre intolerância religiosa e empoderamento estético, por exemplo. Fizemos a ‘corrida da meritocracia’, em que abordamos os privilégios sociais decorrentes do racismo estrutural. Promovemos, ainda, a formação continuada com os professores, além de termos criado o Laboratório de Estudos Raciais, que funcionará de forma permanente na escola”, explica Lara.
Isabele Alves, de 17 anos, cursa a 2ª série na EEEP Alda Façanha, onde faz o Ensino Médio técnico em Edificações. A jovem considera que, a partir das vivências proporcionadas pela escola, os alunos passaram por diversas mudanças de pensamento. “A conscientização no ambiente escolar transforma vidas. Muitos de nós, alunos, demonstramos identificação com a pauta e gostamos de debatê-la. Acreditamos ser importante não só para a escola, mas também para as famílias. Ter conhecimento sobre a cultura que compõe o nosso país é fundamental. É a nossa identidade sendo descoberta”, ressalta a estudante.
Além da cerimônia de premiação das escolas vencedoras, a conferência desta sexta também teve um momento expositivo apresentado pelos diretores das três escolas que obtiveram maior pontuação no edital do Selo. A mesa foi composta por Joceli de Araújo, da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Valdo de Vasconcelos Rios, de Itarema; Arthur Monteiro, da EEEP Alda Façanha, de Aquiraz; e Gildemário Lima, da EEEP Lúcia Helena Viana Ribeiro, de Horizonte. O secretário executivo Helder Nogueira foi o mediador do debate.
Joceli de Araújo, diretor da escola que ficou em 1º lugar na pontuação geral do edital, explica que já havia um trabalho sendo desenvolvido na EEMTI Valdo Vasconcelos sobre a temática, desde 2010. O projeto, chamado “Cultura Afro”, era realizado anualmente durante o segundo semestre letivo e incentivava a execução de pesquisas na área.
“Quando a escola passou a ser de tempo integral, as ações foram fortalecidas, a partir do currículo diversificado. As eletivas, os clubes e o Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais (NTPPS) proporcionaram aos alunos o desenvolvimento de muitas pesquisas relacionadas à causa. Além disso, criamos jogos interativos nos quais os estudantes se envolvem muito. A ‘Caravana Afro’, que possibilita visita a outras escolas da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) 3, trabalha com a exposição de materiais, representações por meio de danças e músicas. É preciso combater o preconceito existente na nossa sociedade. Esse processo precisa ser permanente e contínuo dentro da escola, e não apenas em datas comemorativas”, destaca Joceli, que também é autor do livro “Por que minha diferença te incomoda”.
Helder Nogueira lembra que ao longo do ano inteiro as unidades de ensino da rede estadual foram mobilizadas, incentivadas e reconhecidas pelas iniciativas que desenvolveram neste sentido. As escolas que se inscreveram no Selo precisaram apresentar várias boas práticas, principalmente com foco na gestão para a equidade étnico-racial.
“Tivemos 164 escolas inscritas, com mais de 1.800 boas práticas registradas. Estamos muito satisfeitos com esse primeiro ciclo e vamos seguir com a iniciativa nos próximos anos. Queremos aprová-la em lei e vamos seguir, a cada ano, aumentando o número de escolas a receberem o selo. Aspectos como currículo afro-referenciado, iniciação científica, protagonismo estudantil, avaliação, redução da cultura da reprovação, redução do abandono e da infrequência, tiveram que ser abordados nas ações que as escolas realizaram. É muito importante que tenhamos ações para motivar a presença dos alunos nas escolas, protegê-los com relação às violências, e promover aprendizados significativos a todos”, argumenta o secretário executivo.
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