A ciência tem avançado em ritmo acelerado, mas o conhecimento da sociedade acerca desse assunto não tem acompanhado essa rapidez. “O conhecimento científico torna-se cada vez mais necessário ao cidadão comum”, destaca o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), Nordman Wall. Com essa diretriz, a Fundação vem investindo na popularização da ciência e divulgação científica em diversos segmentos por meio do fomento à publicações de livros.
Durante a realização da 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT/MA), na tarde desta quarta-feira (16), no Convento das Mercês, Centro Histórico de São Luís, foram realizadas, no estande da instituição, duas ações em sintonia com esse espírito da popularização da ciência.
A pesquisadora e professora de Cultura Paisagística da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Barbara Prado, participou de uma roda de conversa com estudantes do Ensino Médio, sobre o livro de sua autoria “Betinho, o jardineiro genial”, publicado, no ano passado, em co-autoria com Lila Prado Miranda. O livro editado com apoio da Fapema, após seleção no edital nº 05/2022, é baseado em suas pesquisas acerca dos projetos paisagísticos de Burle Marx do Palácio dos Leões.
Doutora em Urbanismo, Barbara Prado constatou, em suas pesquisas, que muitas crianças que visitavam a sede do governo estadual não tinham referências acerca do jardim e de seu criador, apesar de Burle Marx ser uma referência mundial. “Eu pensei em escrever um livro que falasse para as crianças sobre as plantas, o amor dele e a sua história, de uma forma lúdica, e sobre como ele conseguiu fazer alguns projetos”, explica Barbara Prado.
O seu livro leva para as crianças o conhecimento gerado na universidade e a tiragem de mil exemplares foi totalmente doado para escolas e para o Palácio dos Leões. “Considero que devemos começar cedo a ensinar a melhorar a cidade, já na infância, desenvolvendo um outro olhar para as paisagens e os jardins para eles entenderem que o trabalho com plantas não é simples, mas tem uma importância ecológica, devendo ser observado que a inserção de plantas que não integram o bioma podem comprometer o meio ambiente”, ressalta.
Ela considerou muito interessante a realização da roda de conversa com os estudantes adolescentes no estande da Fapema na SNCT/MA. “Eles externaram que não conheciam o Palácio dos Leões, nem o Jardim nem Burle Marx e nunca tinham refletido sobre a importância da vegetação nativa, pois isso não é relatado nas escolas quando é tratado do tema do meio ambiente ou ecologia”, informa. “Isso foi bastante produtivo para o grupo que conheceu um pouco mais a respeito da temática”, finaliza.
Prática jurídica e protagonismo negro
A outra ação de divulgação científica, no estande da Fapema, foi a tarde de autógrafo do professor e pesquisador da área do Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Ruan Didier Bruzaca. O título do livro “A prática jurídica entre a bainha e a faca” se baseia na história de Justo Evangelista Conceição, liderança quilombola de Itapecuru-Mirim, de acordo com a tradição oral dos quilombolas de Santa Rosa dos Pretos e Monge Belo.
O livro editado, com 314 páginas, saiu do prelo neste ano com apoio da Fapema por meio do edital nº 17/2021 e tem foco na perspectiva das comunidades quilombolas como ponto fundamental para compreender o Direito e viabilizar os direitos. O trabalho etnográfico foi desenvolvido entre 2016 e 2020, durante o curso de doutorado em Direito, mas a pesquisa prossegue com novas investigações e publicações, destacando o protagonismo negro, o pertencimento territorial e a resistência das comunidades.
“Eles contam que existia um rapaz que, ao entrar em um conflito, numa festa, sempre ganhava”, pontua. “Isso acontecia porque ele levava o inimigo para o escuro e quando puxava a bainha, na mão direita, o inimigo pensava que era faca e se protegia, mas ele, com a outra mão, vinha com a faca, golpeava e sempre ganhava a luta”, relata.
O pesquisador destaca que, para Justo Conceição, a resistência das comunidades quilombolas tem que aprender também com essa história. “A bainha é a legislação que, por si só, não vence o outro”, aponta. “É preciso também a faca que, segundo Justo, é a organização das comunidades quilombolas”, prossegue. “É a partir dessa organização das comunidades quilombolas que é possível vencer a luta, que é possível instrumentalizar o direito e dar substância ao direito”, destaca o pesquisador Ruan Bruzaca.
De acordo com Bruzaca, a Fapema é essencial para a ciência no Maranhão. “Sem a Fapema, certamente muitas obras, muitos eventos e muitas pesquisas não seriam desenvolvidas”, ressalta. “As minhas pesquisas foram financiadas pela Fundação, cinco ou seis projetos que, sem esse apoio, não seriam finalizados e tem um grande impacto para as comunidades e para a sociedade porque, nas minhas pesquisas sempre há uma grande integração de líderes de comunidades quilombolas, das comunidades em situação de conflitos de terra que é a pesquisa que eu desenvolvo”, finalizou.
A pesquisadora Barbara Prado também avalia que o apoio da Fapema é fundamental para a divulgação da produção científica e literária. “É muito importante, nós não podemos ficar sem esse apoio, porque a ciência maranhense precisa avançar de uma forma mais veemente”, disse. “Eu acredito que a Fapema tem feito um papel muito importante, eu já participei de vários trabalhos, esse já é o meu terceiro livro com apoio da Fapema e esse apoio é muito valioso para todos os pesquisadores”, conclui.
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