“Amor que une e transforma”: presença de pais durante tratamento de filhos autistas fortifica laços de afeto

O agricultor Edson do Nascimento larga o trabalho no campo todos os meses para acompanhar o tratamento psiquiátrico da filha

Amor que une e transforma: esse é o tema da campanha para o Dia dos Pais da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Até sexta-feira, vamos contar histórias de pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela paternidade. Na primeira reportagem, vamos acompanhar como a presença dos pais nas terapias de filhos com autismo ajudam no tratamento e podem tornar ainda mais fortes os laços que unem os dois.

Todos os meses, o agricultor Edson Pereira do Nascimento, de 41 anos, morador de Itapipoca, larga a pá e a enxada para acompanhar a esposa e a filha, de apenas dois anos, em tratamento no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), em Fortaleza. A menina, diagnosticada com autismo, é acompanhada pelos profissionais do Núcleo de Atenção à Infância e Adolescência (Naia) do HSM.

Em um cenário onde o estigma em torno da saúde mental ainda persiste, Edson faz questão de estar com a família em todos os momentos. “Apesar de trabalhar muito, sempre dou um jeito de estar presente, de colaborar com as atividades domésticas e acompanhar as consultas. Não é justo e não posso deixar minha esposa e minha filha sem meu amparo”, declara.

De acordo com a psicóloga do Naia, Rita Rodrigues, a presença ativa dos pais no tratamento de saúde mental é um componente essencial para o sucesso do processo terapêutico. “A participação de um pai no acompanhamento do seu filho vai gerar segurança no desenvolvimento e colaborar com respostas positivas ao tratamento quando todos os cuidadores estão engajados a participar da melhora da funcionalidade do filho”, afirma.

Para muitos pais, o diagnóstico de uma condição de saúde mental em um filho pode ser um choque profundo. No entanto, o envolvimento deles se torna crucial para garantir que o tratamento seja eficaz. “Participar junto com a mãe, levar a criança às terapias e compreender qual o manejo para trabalhar com as birras ou crises que, muitas vezes acontecem, estar presente no brincar e compreender a melhor forma de integração da criança na socialização, faz toda a diferença”, explica a psicóloga.

Eles não apenas proporcionam apoio emocional, mas também ajudam a criar um ambiente que facilita a recuperação. O operador de escavadeira, Bruno Veríssimo, de 33 anos, mora no município de Trairi com a esposa e o filho de três anos. Eles fazem o tratamento do filho no HSM. O pai reconhece que a participação dele no processo traz mais segurança e progresso no tratamento. Ele relata que a paternidade revela uma nova forma de amar.

“Meu filho tem autismo e fica bem mais calmo quando estou presente. Além disso, minha esposa se sente mais segura. Todos os meses eu tento acompanhar essas consultas para dar suporte, pois é necessário. Todos os pais devem participar desse processo. Sem dúvida, ajuda muito no desenvolvimento dos filhos. Isso é pra vida inteira. Todo pai de uma criança diagnosticada com autismo ou qualquer outra condição, deve ser ainda mais presente, dar mais afeto e amar mais, sem medidas”, recomenda.

Desafios e Recompensas

Essa jornada não é isenta de desafios. Os pais frequentemente enfrentam estresse ao lidar com as necessidades emocionais de seus filhos, enquanto tentam equilibrar outras responsabilidades pessoais e profissionais. Para lidar com esses desafios, é fundamental que os pais também busquem apoio. O autocuidado é essencial para garantir que eles permaneçam emocionalmente disponíveis e capazes de oferecer o suporte necessário.

“Os pais podem e devem buscar ajuda psicológica para cuidar da sua saúde mental. Observamos que muitos homens são afetados ao receber o diagnóstico de um filho, porém é importante olhar para o seu filho como ele é, com o seu jeito singular de ser. Sugiro para todos os pais que fazem parte dessa rede de cuidado com seu filho, que tenham um olhar carinhoso, repleto de amor e cuidado, lembrando que seu filho não é um transtorno, ele é o seu filho, que faz parte de todo amor envolvido nessa família”, orienta a especialista.