71% das escolas da rede estadual ofertam jornada ampliada, com até nove horas e três refeições diárias
Logo na entrada da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Mário Alencar, localizada no bairro Jangurussu, em Fortaleza, é possível ver um mural com fotos de ex-alunos que concluíram o Ensino Médio e conseguiram ingressar em universidades dentro e fora do Ceará. Os rostos dos novos universitários brilham em formato de estrelas que foram produzidas com orgulho pela coordenação escolar.
O desejo da estudante Maria de Lourdes Campos (Malu), 17, é também ver o próprio nome no mural. Ela está na 3ª série do Ensino Médio cursando Redes de Computadores na EEEP Mário Alencar. “Da minha casa, eu vou ser a primeira a concluir o Ensino Médio. Meu pai trabalha desde novinho com mecânica, mas nunca se formou na área. Ele e minha mãe sentem falta de mim um pouco, mas sabem que estou na escola, estudando, e tentam ajudar. Eu sempre gostei muito de mexer com máquinas, eletrônica. A Engenharia Mecânica une a tecnologia e a área de projetos”, diz a estudante que se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O ensino em tempo integral começou a ser implementado na rede estadual em 2008, com o início das escolas profissionais. Quinze anos depois, o modelo abrange mais de 70% das escolas de ensino médio da rede pública cearense, com 245 mil estudantes matriculados nas Escolas Estaduais de Educação Profissional e Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. A meta do Governo do Ceará é garantir a universalização deste modelo de ensino até 2026.
As EEEPs ofertam o Ensino Médio integrado a cursos técnicos, com duração de três anos, jornada das 7 às 17h e três refeições diárias. Durante a 3ª série do Ensino Médio, os estudantes têm acesso ao estágio curricular obrigatório e remunerado.
Na Mário Alencar é possível compreender o que torna a jornada ampliada atrativa para os estudantes. “Eu entrei [no Ensino Médio] em 2021, e ainda era ano de pandemia. A Escola sempre foi muito organizada e, nisso, continuamos em tempo integral, com aulas online, frequência e atividades. Em 2022, corremos atrás do prejuízo que tivemos. Temos muitos projetos na escola, como o Grêmio Estudantil e a MA [Mário Alencar] Soluções”, cita Malu.
A MA Soluções é um contínuo projeto de integração que simula uma empresa e agrega os quatro cursos ofertados pela escola: Redes de Computadores; Desenvolvimento de Sistemas; Enfermagem; e Eventos. Malu atualmente é coordenadora da iniciativa.
As atividades e os projetos citados são alguns exemplos que preenchem o cotidiano e os sonhos dos estudantes, proporcionando experiências que consolidam as relações dentro de um espaço seguro de aprendizado. Se um colega desanimar, professores e estudantes darão todo o apoio necessário por meio da Busca Ativa Escolar, iniciativa coordenada pela Seduc para a permanência dos alunos nas escolas da rede estadual. “Eu não vou abandonar a escola, porque eu vejo que muitos alunos que se formaram voltam para conversar com a gente, dar palestra. Eu pretendo vir sempre para ajudar”, projeta Malu.
Ouvir depoimentos como o de Malu emociona profissionais como a coordenadora do curso de Enfermagem, Germana Freitas, 41, que também leciona outras seis disciplinas na Mário Alencar. “O Ensino Médio em Tempo Integral tem um impacto muito grande para a comunidade. É uma oferta em que os estudantes aproveitam bastante na questão profissional e na cidadania. A gente sempre tem relatos de ex-alunos sobre a escola ter sido a porta para o caminho profissional. É muito legal ver essa dinâmica, essa prosperidade”, destaca.
É esse caminho que Renata Gabryelle Barros, 14, pretende trilhar. Ela está na 1ª série do Ensino Médio, cursando Enfermagem, e já integra a área de Saúde e Bem-Estar da MA Soluções no setor de Saúde e Bem-Estar. “O meu desejo pela área da saúde surgiu desde novinha, por volta dos meus quatro anos. Esse sempre foi meu objetivo:conseguir trabalhar com vidas, salvar vidas. E, agora, estou realizando o meu sonho. Quero ir para a área da cardiologia. Meus pais não terminaram o ensino superior, mas, justamente por isso, eles querem algo esplêndido para mim, que eu trabalhe na área que eu goste ”, revela.
Além das EEEPs, a rede estadual também conta com as Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTIs), um modelo que foi implementado a partir de 2016 e, desde então, dispõe de currículo composto de formação geral básica e itinerários formativos, compreendendo disciplinas eletivas e projeto de vida. A maioria das EEMTIs está localizada entre os municípios com maiores índices populacionais. As escolas foram distribuídas em áreas consideradas mais vulneráveis.
Uma das 341 unidades é a Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Johnson, no bairro Luciano Cavalcante, em Fortaleza, onde o Lucas Sales Machado, 16, estuda. “É uma rotina com bastante responsabilidade. Mas, quando chega a tarde, você vê que valeu a pena o tempo que foi gasto durante o dia na escola. O Tempo Integral me proporcionou várias coisas boas, como as habilidades que eu ganhei e a vocação que descobri. O que eu mais gostei nesses três anos de Ensino Médio foi, justamente, a diversidade de atividades. Tem dança, tem esporte, tem teatro e outras oportunidades de se apresentar em público. Foi assim que eu descobri qual carreira seguir. Quero o jornalismo”, afirma o estudante.
Agora, o foco de Lucas, que também desenvolve seu protagonismo estudantil atuando como vice-líder de sala, é a preparação para o Enem. “Nesse fim de ciclo, debatemos muito qual carreira profissional seguir, e é interessante que vamos compartilhando experiência, história e gostos. Querendo ou não, isso nos capacita a seguir os nossos sonhos”, completa.
Sonhos que são apoiados pela comunidade escolar e pelas famílias. É o que relata a mãe do estudante e técnica em Enfermagem, Célia Sales. “O Lucas chega em casa super empolgado e feliz com tudo que viu na escola. Eu fico tranquila porque sei que é um lugar agradável e confortável. O meu filho está muito feliz. Ele descobriu que quer ser jornalista, e está se dedicando. Meu maior sonho é ver meu filho formado”, diz Célia.
Nas EEMTIs, alunos, escola e comunidade estabelecem objetivos comuns e implementam ações baseadas em evidências científicas para alcançar a máxima aprendizagem e a melhoria da convivência entre todos.
A oferta das disciplinas eletivas é estruturada levando em consideração as quatro áreas do conhecimento (Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Ciências da Natureza e suas Tecnologias) mais a Formação Profissional, possibilitando aos alunos a estruturação de seu itinerário formativo e uma reflexão sobre sua trajetória acadêmica, que será desenhada por suas escolhas e interesses.