O churrasco deve pesar mais no bolso dos brasileiros em 2026. A previsão é de que o preço da carne bovina suba nos próximos meses, pressionando também outras proteínas muito consumidas, como frango e ovos.
Segundo Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV Agro, o motivo é o ciclo pecuário — movimento natural de alta e baixa no preço do gado. A oferta de animais deve cair ao mesmo tempo em que a demanda e os custos de produção permanecem elevados, resultando em novo aumento de preços.
Em outubro, as carnes subiram 0,21% no IPCA. Em 12 meses, a alta chegou a 12,24%, puxada principalmente pelo peito (17,04%) e pela capa de filé (16,69%). A picanha, favorita nos churrascos, teve aumento de 7,68%.
Quando o bezerro está valorizado, o pecuarista costuma manter mais vacas no rebanho para ampliar a produção futura. Isso reduz a oferta de carne no curto prazo. “O animal, ao invés de virar bife, fica retido para poder produzir bezerros. Aí, temos uma produção menor de carne e, naturalmente, o preço tende a subir”, explica.
A reversão do ciclo pecuário era esperada para 2025, mas não ocorreu. “Continuamos enxergando um processo intenso de fêmeas sendo encaminhadas para o abate, ou seja, o descarte destes animais. Isso, em algum momento, deve mudar, provavelmente no ano que vem, porque o preço do bezerro já subiu. Com a retenção de fêmeas os preços serão pressionados", afirma Serigati.
Ele reforça que, a longo prazo, a retenção de vacas diminui ainda mais a oferta de carne. “Uma vaca gerando um bezerro oferece um retorno maior do que se fosse encaminhada ao abate. E quando a margem da cria fica muito apertada, ele passa a enxergar uma parte maior dessas vacas como mais rentável no frigorífico”, diz.
Com o aumento da carne bovina, a pressão deve chegar também ao frango e, em um cenário mais forte, aos ovos — movimento semelhante ao registrado em 2020, durante a pandemia, e em 2022, com a guerra na Ucrânia. “O produtor fica em uma condição mais favorável, mas o consumidor pode encontrar proteínas operando em um patamar de preço mais alto”, conclui.
Para Fernando Iglesias, coordenador de Mercados da Safras & Mercado, o ciclo pecuário é de fato o principal fator para a alta, mas não o único. O comportamento das exportações também deve influenciar decisivamente os preços.
“Nos anos de 2024 e 2025, o abate de fêmeas foi muito expressivo no Brasil, e isso é um sinal forte. Quando se descartam muitas fêmeas, a oferta é menor de animais jovens nas categorias de reposição de bezerro, boi magro e assim por diante lá na frente. O pecuarista, agora, opta pela retenção para gerar novos animais. Mas isso não acontece de uma maneira imediata. O que poderemos ver é um abate menor no próximo ano. Além disso, a venda de carne bovina para o exterior segue muito contundente e com a expectativa de números ótimos no próximo ano”, afirma.
As exportações de carne bovina alcançaram 357 mil toneladas em outubro de 2025, o maior volume mensal desde 1997, com faturamento de US$ 1,9 bilhão. No acumulado do ano, o país embarcou 2,79 milhões de toneladas, gerando US$ 14,31 bilhões.
“Imagino que vamos ter preços altos no próximo ano para a carne bovina. A expectativa do mercado é essa. O consumidor brasileiro vai pagar mais por essa carne, sim. Se a China manter o ritmo de compra que teve esse ano, vamos bater recorde de embarques, caso contrário, teremos problemas. Mas mantendo um forte ritmo de embarque, o preço da carne fica mais alto”, completa Iglesias.