Direitos Humanos Violência de Gênero
Quase 4 milhões de brasileiras sofreram violência doméstica no último ano
Maioria das agressões ocorreu na presença de outras pessoas; crianças testemunharam 1,94 milhão de episódios.
25/11/2025 08h13
Por: Amanda Lafayette Fonte: Agência Brasil
Foto: Reprodução

Cerca de 3,7 milhões de mulheres brasileiras passaram por um ou mais episódios de violência doméstica nos últimos 12 meses, segundo uma pesquisa nacional. Do total, 71% foram agredidas na presença de outras pessoas, e em 70% desses casos, havia crianças no local — o que representa 1,94 milhão de agressões testemunhadas por menores. O levantamento também aponta que, em 40% das situações com testemunhas, a vítima não recebeu qualquer ajuda.

Os dados atualizam o Mapa Nacional da Violência de Gênero, plataforma do Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) do Senado Federal, do Instituto Natura e da organização Gênero e Número. A ferramenta reúne informações para apoiar políticas públicas de enfrentamento à violência de gênero.

"Essa foi a primeira vez em que a pesquisa investigou a presença de outras pessoas no momento da agressão. O fato de 71% das mulheres serem agredidas na frente de outras pessoas, e, dentre esses casos, 7 em cada 10 serem presenciados por, pelo menos, uma criança, mostra que o ciclo de violência afeta muitas outras pessoas além da mulher agredida", diz Marcos Ruben de Oliveira, coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado, um dos realizadores do estudo.

A pesquisa, realizada com apoio da empresa Nexus, ouviu 21.641 mulheres de todos os estados e do Distrito Federal, por telefone.

Ciclo de violência e dificuldades de rompimento

Para 58% das entrevistadas, a violência é recorrente e ocorre há mais de um ano. Segundo a análise dos dados, isso revela "a persistência do ciclo de agressões e a dificuldade de rompimento desses vínculos", muitas vezes agravada por dependência econômica e falta de redes de apoio.

“Cada situação de violência deixa marcas que ultrapassam o momento da agressão. A pesquisa evidencia que a violência de gênero não é um problema isolado, mas uma questão estrutural que afeta famílias e comunidades e exige uma resposta coletiva, coordenada e permanente, capaz de contribuir para o desenvolvimento do país”, avalia Maria Teresa Mauro, coordenadora do OMV.

Acolhimento e busca por ajuda

Após sofrer violência, 58% das mulheres buscaram apoio na família, 53% recorreram à igreja e 52% procuraram amigos. Mesmo assim, só 28% registraram denúncia em Delegacias da Mulher e 11% acionaram o Ligue 180.

Entre mulheres que declaram ter alguma fé, 70% das evangélicas buscaram apoio religioso, enquanto 59% das católicas recorreram à família.

“Os números são uma fotografia da realidade do país, em que a maior parte dos casos de violência doméstica ainda é tratado na esfera privada. É essencial que quem acolhe, seja um familiar, uma liderança religiosa ou uma amiga, saiba orientar com clareza sobre os caminhos e órgãos responsáveis pelo atendimento, garantindo que essa mulher se sinta segura para buscar proteção e exercer seus direitos”, afirmou em nota Beatriz Accioly, antropóloga e líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Meninas e Mulheres, do Instituto Natura.

Lei Maria da Penha ainda é pouco conhecida

A pesquisa mostra que 67% das brasileiras conhecem pouco a Lei Maria da Penha e 11% não sabem nada sobre ela. O desconhecimento é maior entre mulheres com menor renda e escolaridade.

Entre brasileiras analfabetas, 30% desconhecem totalmente a lei, enquanto entre as que têm ensino superior completo são apenas 3%.

A idade também influencia: 18% das mulheres acima de 60 anos não conhecem a lei, percentual que cai para 6% entre jovens de 16 a 29 anos.

Apesar disso, 75% das entrevistadas acreditam que a Lei Maria da Penha protege total ou parcialmente as mulheres. Outras 23% avaliam que ela não protege.

Conhecimento sobre instituições de apoio

As Delegacias da Mulher são as instituições de proteção mais conhecidas, reconhecidas por 93% das entrevistadas. Em seguida aparecem:

A pesquisa reforça a necessidade de ampliar informação, acolhimento e políticas públicas para enfrentar a violência de gênero e garantir proteção efetiva às vítimas.