Saúde Vacinação
Continente americano perde certificado de região livre de sarampo após 12 meses de transmissão no Canadá
Vírus circula de forma sustentada e casos na região crescem 30 vezes em um ano, com 95% concentrados em Canadá, México e EUA; Opas alerta que 95% da população precisa ter duas doses da vacina.
12/11/2025 07h04
Por: Amanda Lafayette Fonte: Agência Brasil
Foto: Reprodução

O continente americano perdeu o status de região livre de transmissão endêmica do sarampo. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) decidiu retirar o certificado após constatar que o vírus tem circulado de forma sustentada no Canadá por $12$ meses, o que configura a transmissão endêmica.

"Se um país na região perde o certificado, a região toda acaba perdendo essa condição", explicou o diretor da Opas, Jarbas Barbosa, em uma coletiva de imprensa na última segunda-feira (10).

Barbosa ressalvou que a perda é reversível, mas alertou: "Enquanto o sarampo não for eliminado em nível mundial, nossa região continuará enfrentando o risco de reintrodução e disseminação do vírus entre populações não vacinadas ou subvacinadas".

Até 7 de novembro de 2025, foram notificados 12.596 casos confirmados de sarampo em dez países das Américas, um total $30$ vezes maior do que o registrado em 2024. Cerca de $95\%$ dos casos se concentram em Canadá, México e Estados Unidos.

A doença também causou a morte de 28 pessoas: 23 no México, 3 nos Estados Unidos e 2 no Canadá.

Sete países estão com surtos ativos: Canadá, México, Estados Unidos, Bolívia, Brasil, Paraguai e Belize, em sua maioria desencadeados por casos importados. A Opas informou que 89% dos infectados não foram vacinados ou tinham situação vacinal desconhecida. Crianças com menos de 1 ano de idade "são as mais afetadas" e as mais propensas a desenvolver complicações.

"O vírus do sarampo é um dos mais contagiosos. Uma pessoa infectada pode transmitir pra até 18 pessoas. Graças às vacinas, muitas pessoas nunca viram um surto na sua vida, mas o sarampo pode causar complicações sérias como cegueira, encefalite e até mesmo a morte. Crianças pequenas podem ter encefalite quase fatal, anos mais tarde. Pelo menos 95% da população tem que estar vacinada com as duas doses pra gente interromper isso e em todas as comunidades, sem exceção", alerta o diretor da Opas.

Situação do sarampo no Brasil

Apesar de ter registrado casos em 2025, o Brasil ainda mantém o certificado de país livre do sarampo, reconquistado em novembro do ano passado. No país, foram confirmados 34 casos em 2025, com o surto mais grave ocorrendo em Campos Lindos (TO). O surto teve origem com a chegada de quatro pessoas "infectadas durante viagem à Bolívia" e se espalhou por uma comunidade com histórico de resistência à vacinação.

 Ao contrário do que aconteceu no Canadá, no Brasil a contaminação interna da doença não se estabeleceu pelo período mínimo necessário. 

Por enquanto, foram confirmados 34 casos em 2025, sendo um no Distrito Federal, dois no Rio de Janeiro, um em São Paulo, um no Rio Grande do Sul, 25 em Tocantins, um no Maranhão e três no Mato Grosso.

A situação mais grave, ocorrida na cidade de Campos Lindos (TO), teve origem com a chegada de quatro pessoas infectadas durante viagem à Bolívia. Elas transmitiram o vírus para outros 18 moradores da comunidade, que tem histórico de resistência à vacinação. Outros três moradores da cidade que não fazem parte da comunidade também adoeceram.

Este caso ainda é considerado um surto ativo pelas autoridades sanitárias, já que o último paciente confirmado registrou sintomas no dia 12 de setembro, e é necessário que se passem 12 semanas sem nenhuma outra confirmação para que o surto possa ser considerado encerrado.

O presidente da Câmara Técnica para a Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita do Ministério da Saúde, Renato Kfouri, diz que o órgão se reuniu com representantes da Opas neste mês para apresentar a situação do país.

"Fizeram poucas recomendações, de intensificar a vigilância e aumentar a cobertura da segunda dose da vacina. Mas os casos de Campos Lindos e do Mato Grosso já mostram isso: nós estamos detectando precocemente os casos, fazendo bloqueio vacinal, e especialmente indo nesses bolsões de baixa cobertura", acrescentou Kfouri.

De acordo com o presidente da câmara técnica, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, a quantidade crescente de casos, especialmente em países vizinhos, como Argentina e Bolívia, aumenta a preocupação com o Brasil.

"São dois pilares que sustentam a nossa situação de zona livre de circulação de sarampo: a vigilância de casos, com a detecção rápida de casos suspeitos, e, claro, a vacinação, com as duas doses. Nossa cobertura está batendo perto de 95% na primeira dose, mas caindo pra 80% na segunda dose", alerta.

A diretora da Sbim, Isabela Ballalai, confirma que as autoridades de saúde e os especialistas já estão em alerta desde o aparecimento dos primeiros casos importados. Ela lembra que o Brasil, além de fazer fronteira com diversos países, também mantém uma circulação frequente de pessoas com os Estados Unidos, onde o vírus está se espalhando "de maneira absurda e totalmente sem controle".

"Se a gente não chegar a, no mínimo, 95% de cobertura, vamos ter de novo surtos e mais surtos. O Ministério da Saúde tem se engajado muito na prevenção do sarampo, mas chegar ao ponto de perder o certificado de eliminação nas Américas é, sem dúvida, um retrocesso muito significativo e um risco grande pra população de todo o continente", lamenta a diretora da Sbim.

A vacina contra o sarampo está disponível no Sistema Único de Saúde e faz parte do calendário básico de vacinação infantil. A primeira dose deve ser tomada aos 12 meses de idade, com o imunizante tríplice viral, que protege também contra a caxumba e a rubéola.

Já a segunda dose, é aplicada aos 15 meses, com a tetraviral, que reforça a proteção contra as três doenças e imuniza ainda contra a varicela, que causa a catapora. A vacina contra o sarampo está disponível gratuitamente no SUS, e o esquema vacinal completo (duas doses) é fundamental para a proteção de toda a população até 59 anos de idade.