Balsas, no sul do Maranhão, é considerada o epicentro do desmatamento no estado e uma das áreas mais pressionadas pela expansão do agronegócio na região do Matopiba (que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Neste contexto de rápida devastação do Cerrado, a Escola Familiar Agrícola Rio Peixe (EFARP) surge como um modelo de resistência e um foco de esperança para o desenvolvimento sustentável.
A escola utiliza a chamada Pedagogia da Alternância, com a missão de educar jovens do campo para o campo, preparando-os para o desenvolvimento sustentável e a preservação do Cerrado.
Enquanto as grandes fazendas vizinhas (que produzem soja e milho) priorizam a alta produtividade tecnológica, a EFARP depende da manutenção da vegetação nativa para garantir os recursos naturais e os modos de vida tradicionais.
Alunos relataram ter testemunhado a devastação ao redor de suas comunidades em questão de semanas. Isso resultou em aumento do calor, perda de fertilidade do solo e migração de animais como onças, emas e capivaras.
A situação em Balsas reflete a dinâmica de todo o Matopiba, que se tornou um polo de produção de commodities, mas também concentra mais de 80% do desmatamento no Cerrado brasileiro, bioma que tem sido mais devastado que a Amazônia nos últimos anos.
A expansão do agronegócio no Cerrado está associada à perda de cobertura vegetal, extinção de espécies, erosão do solo e poluição de rios cruciais, como o Rio Balsas.
Há uma tensão social crescente, onde os grandes produtores chegam e partem, enquanto pequenos agricultores e comunidades tradicionais (ribeirinhos, quebradeiras de coco, quilombolas) sofrem diretamente com a gestão ambiental e a perda do sustento. O acesso à água é um ponto crítico, com grandes projetos instalando pivôs no Rio Balsas sem restrições aparentes.
Os projetos da escola, em parceria com o ISPN (Instituto Sociedade População e Natureza), se estendem às famílias dos estudantes, promovendo o cultivo de roças agroecológicas, horticultura e fruticultura irrigada. O foco é preservar a biodiversidade local, cultivando espécies como o pequi e o caju nativos.
A resistência da Escola Familiar Agrícola Rio Peixe simboliza a luta pelo desenvolvimento econômico aliado à preservação do patrimônio natural e cultural do Cerrado.
(Foto: Reprodução/ Zanone Fraissat/Folhapress)
(Foto: Reprodução/ Zanone Fraissat/Folhapress)