A Operação Spare, deflagrada em São Paulo nesta quinta-feira (25/9) para apurar a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no ramo de combustíveis e jogos de azar, tem um grupo de contadores entre seus investigados. Eles são considerados figuras centrais do esquema de lavagem de dinheiro e com papel fundamental para as atividades da facção criminosa.
Desdobramento da Carbono Oculto, a operação desta quinta-feira cumpre 25 mandados de busca e apreensão contra suspeitos de envolvimento no esquema bilionário em postos de gasolina que liga o PCC à Faria Lima.
Quem são os 25 alvos de operação contra postos de combustível ligados ao PCC
O principal alvo da operação é Flávio Silvério Siqueira, conhecido como Flavinho. Endereços ligados à BK Bank, considerado um “banco paralelo” da organização criminosa, também são alvos dos mandados.
Atuação de contadores no esquema
De acordo com as investigações, contadores contratados pelas empresas suspeitas tinham papel central no esquema criminoso. Um dos contadores investigados possui procuração de 941 empresas junto à Receita Federal — mais de 200 delas atuam no ramo de postos de combustíveis.
A suspeita é que os contadores atuavam como “centralizadores” das atividades dessas empresas, muitas das quais pertencem ao mesmo grupo econômico. Os reais controladores dessas empresas, segundo as investigações, são pessoas que têm relação direta com os contadores investigados.
Mandados em todo o estado
Os mandados desta quinta-feira são cumpridos em endereços de São Paulo, Santo André, Barueri, Campos do Jordão, Osasco, Santos e Bertioga. Participam da operação 64 servidores da Receita Federal e 28 do MPSP, além de representantes da Secretaria da Fazenda, da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo e da Polícia Militar.
As investigações começaram a partir da apreensão de máquinas de cartão em casas de jogos clandestinos situadas na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, que estavam vinculadas a postos de combustíveis. A análise das movimentações financeiras revelou que os valores eram transferidos para uma fintech, utilizada para ocultar a origem ilícita dos recursos e sua destinação final.
O MPSP identificou uma complexa rede de pessoas físicas e jurídicas envolvidas na movimentação dos valores ilícitos. Também foram constatados vínculos com empresas do ramo hoteleiro, postos de combustíveis e instituições de pagamento quem mantinham uma contabilidade paralela, dificultando o rastreamento dos recursos.
Motéis e lojas de franquia
O esquema era complexo e funcionava em vários elos da cadeia de combustíveis: na importação, produção, distribuição e comercialização ao consumidor final. Também foi identificada a prática de adulteração de combustíveis com o uso de metanol.
Além dos postos, os investigados são suspeitos de utilizar empreendimentos imobiliários, motéis e lojas de franquia como instrumentos para lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. Esse movimento se dava em espécie e por maquininhas via fintechs, e posteriormente os recursos lavados eram reinvestidos em negócios, imóveis e outros ativos, por meio de Sociedades em Conta de Participação (SCP), de acordo com a Receita Federal.
Mais de 60 motéis eram usados para lavar dinheiro no esquema bilionário em postos de gasolina. Os estabelecimentos estavam registrados em nome de laranjas e movimentaram R$ 450 milhões entre 2020 e 2024.
De acordo com a Receita, os motéis eram usados para distribuir lucros e dividendos dos envolvidos na organização criminosa. Um dos locais chegou a repartir 64% da receita bruta declarada.