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Água de fábrica onde 700 pessoas foram infectadas têm bactérias e vírus, aponta laudo
O caso aconteceu em uma fábrica de calçado em Morada Nova. Os funcionários apresentaram sintomas como diarreia, vômito e febre. Amostras da água e dos alimentos foram colhidos para serem analisados.
28/11/2024 08h55
Por: Helorrany Rodrigues Fonte: A Voz de Santa Quitéria

Bactérias e vírus que causam diarreia, entre outros sintomas, foram encontrados na água e comida de uma fábrica em Morada Nova, no interior do Ceará. As informações foram compartilhadas pela Secretaria da Saúde do estado (Sesa), nesta quarta-feira (27), duas semanas após o surto de infecção em massa que adoeceu mais de 700 funcionários.

Após análise das amostras biológicas, o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) identificou, entre os patógenos de importância para a saúde pública, quatro cepas da bactéria Escherichia coli e Rotavírus A.

A Sesa informou ainda que a verificação do material coletado nos alimentos constatou a existência das bactérias Bacillus cereus e Estafilococos coagulase positiva em alguns produtos. Já na avaliação da água, foram detectadas bactérias do grupo coliformes totais e Escherichia coli.

A Secretaria disse que realizou uma série de ações após ser notificada, no dia 14 de novembro, sobre o surto de Doença de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) na fábrica. O município de Morada Nova já recebeu os laudos e todas as orientações necessárias da Secretaria. A empresa será autuada e responderá a processo administrativo sanitário.

Técnicos da Sesa realizaram investigação epidemiológica em campo, inspeção sanitária e entrevistas com mais de 400 funcionários da fábrica. A Sesa também coletou, em conjunto com equipes do município, amostras de água, de alimentos e de material biológico de pessoas que apresentavam sintomas da infecção. Com as medidas de contingenciamento, o órgão estadual garantiu que o surto foi contido.

Em nota, a Coopershoes disse que não foi notificada oficialmente sobre os resultados das análises realizadas pela Vigilância Sanitária na fábrica. (veja abaixo a nota completa).

"É importante destacar que toda a água utilizada na fábrica, até a data em que os primeiros casos foram identificados — tanto para consumo quanto para o preparo dos alimentos — provinha do fornecimento de água pública do SAAE, o mesmo órgão que abastece também o município", disse a Coopershoes.

Ainda segundo a empresa, uma investigação paralela realizada por um laboratório contratado por ela identificou que a água já estava contaminada antes de chegar às instalações da fábrica.

"Assim que os primeiros casos foram reportados, a empresa adotou medidas imediatas, substituindo os bebedouros por água mineral e alterando o processo de higienização dos utensílios utilizados na alimentação dos colaboradores. A empresa também implementou outras ações para garantir a saúde e segurança de seus funcionários".

Mais de 700 funcionários infectados

Ao todo, cerca de 730 funcionários infectados em uma fábrica de calçados localizada na cidade apresentaram sintomas como diarreia, vômito e febre. Eles denunciaram que água da empresa estava contaminada. Os pacientes superlotaram UPAs e hospitais da região.

Os trabalhadores receberam diagnósticos que vão desde leptospirose até infecção gastrointestinal.

Também houve registro de pessoas procurando unidades de saúde por infecção em Ibicuitinga, cidade vizinha a Morada Nova. Esses pacientes também são pessoas que trabalham na mesma fábrica.

Saiba mais detalhes sobre as bactérias e vírus encontrados. As informações são do Ministério da Saúde:

Amostra biológica (sangue, urina, saliva, tecidos, entre outros):

Bactéria Escherichia coli: bactéria encontrada naturalmente no intestino de humanos e animais. A maioria das cepas de E. coli são inofensivas, mas algumas podem causar graves doenças transmitidas por alimentos, como é o caso da E. coli enterohemorrágica (EHEC). Os principais sintomas da doença provocada pela E. coli enterohemorrágica são cólicas abdominais severas e forte diarréia, inclusive com presença de sangue. Vômitos e febre também podem ocorrer.

Rotavírus A: um dos principais agentes virais causadores das doenças diarreicas agudas (DDA) e uma das mais importantes causas de diarreia grave em crianças menores de cinco anos no mundo.

Alimentos:

Bactérias Bacillus cereus: bactéria que pode causar intoxicações alimentares, provocando diarreia e vômito. A transmissão pode ocorrer por meio de: consumo de alimentos e água contaminados, contato com objetos contaminados, como utensílios de cozinha, acessórios de banheiros e equipamentos hospitalares e contato com outras pessoas, por meio de mãos contaminadas e contato de pessoas com animais.

Estafilococos coagulase: pode causar intoxicações alimentares e infecções humanas.

Água:

Bactérias do grupo coliformes totais: são indicadores de contaminação em alimentos e água. A presença de coliformes totais na água indica que a água teve contato com matéria orgânica em decomposição.

Escherichia coli: bactéria encontrada naturalmente no intestino de humanos e animais. A maioria das cepas de E. coli são inofensivas, mas algumas podem causar graves doenças transmitidas por alimentos, como é o caso da E. coli enterohemorrágica (EHEC). Os principais sintomas da doença provocada pela E. coli enterohemorrágica são cólicas abdominais severas e forte diarréia, inclusive com presença de sangue. Vômitos e febre também podem ocorrer.

Veja a íntegra da nota da Coopershoes:

A empresa manifesta estranheza em relação à matéria divulgada nesta data, uma vez que não foi notificada oficialmente sobre os resultados das análises realizadas pela Vigilância Sanitária na fábrica de Morada Nova (CE).

É importante destacar que toda a água utilizada na fábrica, até a data em que os primeiros casos foram identificados — tanto para consumo quanto para o preparo dos alimentos — provinha do fornecimento de água pública do SAAE, o mesmo órgão que abastece também o município.

Conforme investigação paralela realizada por um laboratório contratado pela empresa, foi identificado que a água já estava contaminada antes de chegar às instalações da fábrica. Assim que os primeiros casos foram reportados, a empresa adotou medidas imediatas, substituindo os bebedouros por água mineral e alterando o processo de higienização dos utensílios utilizados na alimentação dos colaboradores. A empresa também implementou outras ações para garantir a saúde e segurança de seus funcionários.

Importante ressaltar que, na comunidade local, foram registrados inúmeros casos de pessoas apresentando sintomas semelhantes sendo atendidos pelas UPAs, o que reforça que a contaminação não se restringiu apenas ao ambiente da fábrica.

A empresa reitera que, ao tomar conhecimento dos casos entre seus colaboradores, imediatamente comunicou os órgãos competentes e tem colaborado integralmente com todos os pedidos de informações e inspeções desde então.

Há mais de 13 anos, a empresa atua com sucesso em Morada Nova (CE), comprometida com a saúde e o bem-estar dos colaboradores. Atualmente a fábrica gera cerca de 4 mil empregos diretos na região.

Uma funcionária da empresa que trabalha no local há três anos contou ao g1 que desde o dia 11 de novembro começaram os relatos de trabalhadores sentindo enjoos. O surto iniciou na quinta-feira, 14 de novembro.

"Quinta-feira começou um surto total: gente saindo (da empresa) de cadeira de rodas. Inclusive, vi um rato caindo em cima do bebedouro de um setor. Enfim, ratos por todo lado"

A funcionária é uma das atendidas pela UPA da cidade. Ela teve um diagnóstico de leptospirose e disse que teve dificuldade de urinar. "Notei que a água estava com um gosto estranho. Comecei a sentir dor nos rins, muita febre, dores nas pernas e nos braços, manchas vermelhas no corpo. E estou sem urinar, o que foi crucial para o diagnóstico", relatou a trabalhadora.

Outra funcionária teve um diagnóstico de diarreia e gastroenterite de origem infecciosa.

"Passei meu horário todo bebendo água. Quando voltei do descanso, havia comentário de que havia ratos na caixa d'água. Parei de beber água. Meia-noite, comecei a sentir meu corpo todo quebrado, vomitei muito. Ainda estou vomitando, com diarreia e dor de cabeça", contou.

Ela também está na empresa há três anos e relata que já viu ratos pela fábrica, especialmente nas esteiras de produção.

Uma terceira funcionária que aceitou falar com o g1 disse que nas últimas semanas a água da empresa apresentava cor diferente, aparentando estar suja. "E mesmo assim tivemos que beber porque não podemos levar água de casa, eles não aceitam entrar (...) Na quinta (14), algumas pessoas não conseguiam nem chegar ao banheiro e vomitavam na porta (da empresa).".

Um quarto funcionário foi atendido na UPA da cidade na manhã de domingo (17) afirmando sentir sintomas como febre, dor de barriga e na cabeça, vômito, fraqueza, sem vontade de comer, garganta seca e inflamada.

Ele disse que começou a sentir os incômodos na quinta-feira também, mas resolveu retornar à UPA no fim de semana quando sentiu seu estado agravar.