Passado o Outubro Rosa, chegamos ao Novembro Azul e suas campanhas e orientações sobre a saúde masculina. A revista The Lancet, uma das publicações científicas mais renomadas do mundo, divulgou recentemente um estudo desenvolvido pela Comissão de Câncer de Próstata que prevê, até 2040, a duplicação global de casos da doença, chegando a 2,9 milhões de pessoas diagnosticadas, assim como um aumento de 85% no número de óbitos , chegando a 700 mil por ano. Trata-se de um prognóstico que vai no sentido contrário à evolução dos avanços no tratamento da doença.
O câncer de próstata, segundo tumor mais incidente entre os homens (perde apenas para o de pele), foi responsável, em 2023, por 17.093 mortes no Brasil — uma média de 46 óbitos por dia —, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. Grande parte desses números se deve ao aumento da expectativa de vida dos brasileiros e aos diagnósticos tardios, o que limita as opções de tratamento, dificultando a remissão da doença.
Para a campanha Novembro Azul, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) preparou um material que reforça a importância da realização de exames de rotina, assim como do acompanhamento por especialista, evitando o câncer de próstata ou permitindo que ele seja descoberto em estágio inicial. Nesses casos, as chances de cura são maiores, podendo chegar a 90%.
Embora nas capitais brasileiras e polos mais populosos o serviço prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) inclua atendimentos para casos de câncer de próstata, é grande a parcela de municípios sem estrutura adequada de assistência a esses pacientes. Em alguns casos, nem a informação correta chega à população. Além disso, o fator sociocultural — que contribui para que os homens não cuidem da saúde geral e não façam exames específicos, como o toque retal — interfere em alto grau nas estatísticas.
Fato é que a saúde masculina é subestimada pelos próprios envolvidos. Um outro levantamento realizado pela SBU sobre a percepção do homem a respeito da sua saúde mostra que somente 32% dos entrevistados acima de 40 anos se consideram realmente preocupados com a própria saúde e 46% só vão ao médico quando sentem algo. Em se tratando do câncer de próstata, porém, a maioria dos casos é assintomática nas fases iniciais.
É fundamental, portanto, que os governos tracem estratégias que possam lidar com essa atitude masculina, ou a falta dela. Mas não bastam apenas campanhas ou iniciativas esparsas comandadas por entidades ligadas ao SUS. É preciso uma mudança de costumes. A adoção de melhores hábitos de vida, incluindo atividade física e alimentação adequada, aliada ao frequente acompanhamento e intervenção médica, se for necessária, são cuidados imprescindíveis e que dependem também de um comprometimento individual. Caso contrário, as previsões para 2040 se tornarão uma realidade.