Desde 2010, o empresário Luciano Bandeira vem alcançando o sonho de adolescente de ser um “industrial”, como costuma falar. Hoje, ele comanda a Auge Carnaúba, uma empresa que fornece produtos de alto padrão à base de cera da carnaúba extraída no Piauí. De acordo com o empreendedor, até o fim do ano, a meta é atingir R$ 1 milhão em vendas.
Mesmo com 14 anos de negócio, o CEO da empresa conta que a virada de chave foi a partir do fim do ano passado, após a participação de uma missão internacional em Lisboa, organizada pela Investe Piauí em novembro. O objetivo do evento era prospectar relações internacionais de negócios para produtos piauienses, na Europa, a partir de Portugal como porta de entrada.
Este ano, Luciano já conseguiu registrar uma empresa em Portugal, com CNPJ constituído, a Agro Carnaúba Portugal, e outra empresa nos Estados Unidos, a Agro Carnaúba América. As empresas estão em franco processo de desenvolvimento, já venderam para 32 países, alcançando no primeiro semestre deste ano aproximadamente R$ 500 mil em vendas.
As empresas comercializam a Auge Carnaúba Stucco; uma cera creme de carnaúba para lustrações de efeito mármore; a Auge Carnaúba Ceramic, cera automotiva líquida para veículos e; a Auge Carnaúba L3 Black, cera líquida para veículos de cor escura. Todas são produzidas por compostos naturais, garante o proprietário, acrescentando que parte do sucesso do negócio está ligado ao alto teor de qualidade do produto.
“Quando a Investe nos convidou para ir a Portugal, a gente fez todo um trabalho de prospecção e contato com compradores. A Investe nos ajudou com tudo, logística, abertura de empresa, registro de marca e conta bancária. Quando a gente vai entrar no mercado internacional, é muito difícil ter uma loja que compre o nosso produto pelo nosso valor, sem conhecer a marca. Nosso foco maior foi a Europa, de início, porque como ela já conhece o produto de qualidade, não ia ter tanta dificuldade. E a gente focou inicialmente no mundo do efeito mármore, porque foi onde o produto começou a se encaixar primeiro no mercado, para começar a dar nome à marca. Porque o mundo italiano já se utiliza bastante”, relembra Luciano.
O gerente de Comércio Exterior e Acesso a Mercados da Investe Piauí, Gustavo Dias, explica que a missão internacional levou empresários do Piauí que fabricam produtos com padrão para exportação ou que já são exportados. “Para que o mercado português conhecesse e a gente pudesse negociar diretamente com eles foram organizadas visitas técnicas a empresas, rede varejista e rede de supermercados. Fizemos um trabalho prévio com empresários interessados nos produtos brasileiros. Passamos para eles uma lista dos produtos que estamos levando. Fizemos trabalhos com a embaixada, que nos forneceu contatos e fizemos essematchmaking, esse encontro de negócios ‘made in Piauí’”, comenta o gestor.
Gustavo acrescenta que houve trabalho direcionado a vários setores, como o da cera de carnaúba, gerando muitos resultados efetivos. Exemplo disso foi a ascensão da Auge ao mercado internacional. “Nós contactamos quem já trabalhava com cera na Europa para participar do evento, como o maior influenciador da Europa na área, que é um espanhol, o Juan, que já estava usando a cera. Algumas empresas portuguesas se interessaram e uma coisa foi levando à outra. Então, o evento foi a mola propulsora que a Auge precisava para ter essa visibilidade, essa amplificação sobre a qualidade da cera, essa aceitação no mercado, para conseguir exportar e abrir empresa na Europa”, explica o gerente.
Conquistas e metas
O CEO da Auge conta como tudo vem se expandindo desde janeiro deste ano. Para ele, 2024 está sendo um novo momento para a empresa, que conta com 12 colaboradores contratados diretamente e diversos outros indiretamente. “Conseguimos abrir a empresa em Portugal e nos Estados Unidos. A gente envia do Piauí ou de lá para qualquer lugar do mundo. Nós temos laboratório funcionando, ainda de forma tímida, mas já temos”, comenta Luciano Bandeira.
Ele explica que hoje o trabalho está focado na solidificação da imagem de alta qualidade da marca, para que chegue a ser referência no mercado internacional. “Nos segmentos onde a Auge está, ela é obrigada a ser a melhor, eu costumo dizer isso. É um comprometimento meu, porque me vejo obrigado a ser referência, em qualquer segmento que seja. É o nosso grande projeto. Eu quero que a Auge seja referência no mundo em ceras”, acrescenta o CEO.
De acordo com o empresário, até o fim do ano, a meta é atingir R$ 1 milhão em vendas nesse pós investimento, tanto nacional como internacionalmente. “A gente não tinha quase nem faturamento em exportações. Já passamos de R$ 500 mil em vendas diretas, mas agora é que vão começar os pedidos maiores. Hoje mesmo eu estou mandando para o Canadá e amanhã para Hong Kong. E nós ganhamos o prêmio mundial na Tunísia, de efeito mármore”, salienta.
A cera da carnaúba
A cera da carnaúba, de acordo com Luciano, é conhecida como rainha das ceras ou o auge das ceras. Ele afirma que ainda não se descobriu uma cera de origem vegetal que a supere em qualidade. Extraída do pó contido na superfície da folha da planta, a cera é utilizada para lustração de móveis, pisos e madeiras. Também serve para dar brilho à pintura de carro e, como oferece proteção contra raios ultravioleta (UV), ajuda a prevenir o desbotamento. Pode ser usada também para proteção em couros. A partir do pó, obtém-se também óleos finos, produtos medicinais, cosméticos, plásticos, papel carbono, tintas, vernizes, lubrificantes, impermeabilizantes, e até chips e códigos de barra, portanto é utilizada em escala industrial.
Luciano conta que os seus estudos sobre a cera e o mercado do setor se aprofundaram ainda mais desde que começou a pensar como empresário. Aos poucos, ele foi entendendo que o produto piauiense, extraído no estado, precisava ser mais valorizado e explorado para que o retorno econômico em maiores proporções acontecesse dentro do próprio Piauí. “
Sou da região dos Carnaubais, de Campo Maior, e eu ficava incomodado de a cera ir para a Europa, Estados Unidos, Japão, e voltar embalada com o valor lá em cima. E comecei a pesquisar, entender da extração, saber para onde ia, o que é feito com ela. Depois veio a parte de campo e hoje tenho equipe que me dá suporte desde a extração até a produção. E eu sempre tive curiosidade e interesse em trabalhar com isso, porque entendi que é um produto “premium’, que o próprio estado muitas vezes não conhece e que, no Brasil, ninguém dá muito valor”, analisa Bandeira.
Com a experiência em âmbito internacional, o empresário confirma suas perspectivas de que o mercado não é inalcançável para produtos piauienses. No tocante, a Investe Piauí trabalha para cada vez mais com as cadeias produtivas nos 12 Territórios de Desenvolvimento do estado para potencializar os produtos piauienses, a fim de que sejam referência nos mercados local, nacional e internacional. “É um nicho difícil, complexo, principalmente para uma empresa pequena e do Piauí. Mas quando você dá aquele choque de qualidade, a pessoa se encanta e o preconceito cai. E é onde a gente está trabalhando, é onde a Investe trabalha e nos ajuda muito a prosperar”, finaliza Luciano.